Emílio

 

A voz marcante de Emílio Santiago continuará eternizada nas centenas de gravações que ele trabalhou, ao longo de seus 66 anos.

Mas, vê-lo em shows ou aguardando novos discos, a partir desta madrugada, isto seus  fãs não mais terão.

Emílio morreu  às 6:30 desta quarta-feira, no Hospital Samaritano, Rio de Janeiro, em função de complicações decorrentes de um acidente vascular cerebral isquêmico (AVC) que sofreu no dia 7 de março.

Santiago, nos brindava, quase sempre anualmente, com  as melhores interpretações. Cantava de tudo, todos os gêneros.

Sambista formado nos morros do Rio de Janeiro, chegou a gravar baião e xaxado – quando lançou o álbum “Um sorriso nos lábios”,  homenageando Luiz Gonzaga, em 2002.

Descoberto no programa de calouro de Flávio Cavalcante,  líder de audiência da televisão à época, o Brasil seria alertado pelo próprio Cavalcante, após o final do concurso, vencido por Emílio. A frase foi um vaticínio, no estúdio da TV Tupi, nos anos 70:

 

              –  “Gravem bem esta voz e este rosto, este será o maior intérprete da MPB!”

 

Flávio Cavalcante estava certo.

Emílio encantou gerações com suas perfeitas interpretações.

Seu último álbum, “Só danço samba”, lançado no início de  em 2012, ratificava o amor que ele tinha pelo samba e pela música brasileira.

Numa de suas entrevistas à imprensa, quando completou 65 anos, Emílio Santiago criticou  a pasteurização dos intérpretes da MPB.

“Na minha geração, na hora se identificava quem estava cantando no rádio. Agora não é mais assim”, disse ele, quando acabava de lançar o DVD “Só danço samba”.

Na mesma entrevista, Santiago  se mostrou decepcionado com o momento atual da música brasileira, segundo ele, vivendo um momento não muito atrativo.

“Sou cantor dos anos 1970, vindo de uma bossa nova maravilhosa, entrando numa MPB deslumbrante. Era um momento de plenitude da música. Essa boa fase da MPB veio até o começo dos anos 1990. A renovação é que não aparece. Talvez se os jovens escutassem mais Chico Buarque, João Donato, Carlos Lyra, Djavan, Marcos Vale, teriam mais inspiração. A atual juventude não escuta, não tem conhecimento musical como o que eu tinha na minha época”.

E foi mais fundo, ao definir o momento atual da MPB:

 

– “É tudo muito cool. Na minha geração, na hora se identificava quem estava cantando no rádio. Alcione, Nana Caymmi, Lenny Andrade, Angela Maria eram as vozes. Hoje, não. Todas as cantoras têm o mesmo comportamento. Agora elas ( as novas cantoras ) seguem o padrão Marisa Monte de cantar, de se vestir. E as baianas seguiram Daniela Mercury”.

Ele estava certo.

Agora, sem Santiago, mais pobres a MPB ficou.