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Depois de muitas dificuldades para transportar a carga de buriti, da cidade de Goiatins (TO) até Estreito, no Maranhão, finalmente está sendo iniciada a construção da balsa que fará o percurso, até Marabá, para relembrar as viagens heroicas que nossos antepassados faziam, transportando mercadoria, do Maranhão até a foz do Itacaiúnas.

As dificuldades no transporte da matéria-prima  foram encontradas, principalmente, na travessia de pontes danificadas e parte de estradas de chão de péssima conservação, com lama e buracos.

Coordenada pelo  espeleólogo  Bruno Scherer, do Núcleo de Espeleologia da  Casa da Cultura de Marabá, a viagem de Goiatins a Estreito durou dois dias, finalizando no final da tarde dessa terça-feira, 9, com o descarregamento dos buritis (fotos).

Além de  600 talos de buriti para confecção da balsa, com tamanho de 6m x 8m,  o caminhão transportou, também, três construtores, contratados em Goiatins – que serão liderados pelo experiente balseiro  Suleza.

A balsa começou a ser construída numa  garagem náutica existente à beira do rio Tocantins, em Estreito, gentilmente cedida pelo seu proprietário.

Na sexta-feira, até meio dia, os trabalhos de construção do meio de transporte estarão devidamente concluídos.

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As balsas do Tocantins

Conforme conta José Maria Barros em seu livro Marabá, as balsas  “desciam,  pachorrentas (lentamente, monotonia)  o rio Tocantins, carregadas de mercadorias para serem vendidas em Marabá. Confeccionadas de talas de buriti – extremamente leves depois de secas – sua viagem levava semanas. A única forma de maneabilidade das balsas era uma pá de remo adaptada a uma longa vara, com a qual era mantida no “fio” da correnteza, isto é, onde ela era mais forte, evitando os remansos e águas paradas. Pachorrentas e poéticas, as balsas deixavam-se levar pela correnteza do rio, elas contribuíam com destaque para o desenvolvimento da região.

No mesmo livro, o autor garante que a balsa foi, sem duvida nenhuma, a mais segura de todas as embarcações primitivas usadas na região.

Construídas do braço da palma do buritizeiro, que eram reunidos em feixes, e estes ajustados uns aos outros até formarem uma superfície plana, com tamanho que variava entre vinte e cinco a cinqüenta metros lineares. Por cima, armavam uma cobertura de palha de piaçaba para abrigar a carga e a tripulação (foto de arquivo,  abaixo) , sendo que esta se constituía de três a cinco homens.

 

balsa_de_buriti[1]

A balsa era usada somente rio abaixo, à deriva da correnteza do rio. O leme se constituía de duas vogas (espécie de remo de cabo comprido), só usadas para manobras nas cachoeiras e para o acostamento.

Eram embarcações usadas somente no Tocantins, confeccionadas em Carolina, no Estado do Maranhão, onde há abundancia dessas palmeiras. Transportavam cereais, frutas, aves, porcos, cabra, carneiros, carne seca, toucinho, rapadura, doces de leite, de coco e de buriti.

Em Marabá terminava a viagem. Aqui as talas eram vendidas ou dadas, desmanchadas, de cujo material faziam-se cercas e paredes.

Durante a época invernosa, o porto da cidade pelo Tocantins, ficava tomado delas. Cheias das mais variadas mercadorias, inclusive a famosa rede sertaneja, totalmente construída à mão, eram verdadeiros empórios flutuantes.

Para comprovar o conhecimento do autor do livro “Marabá, a Fundação Casa da Cultura  foi encontrar reserva de buritizeiro somente no município de Goiatins,  70 km acima da cidade de Carolina, onde localizou, também, Sulezo, um dos balseiros remanescentes.

Como parte integrante da programação do Centenário de Marabá, a balsade buriti  em construção na cidade de Estreito fará o mesmo trajeto, fazendo paradas obrigatórios em alguns municípios às margens do rio Tocantins, onde haverá solenidade oficial saudando a caravana.

A produtora VídeoV terá uma equipe à bordo da balsa, registrando a viagem para a produção de um documentário que será distribuído, posteriormente, em escolas de Marabá e de todos os municípios localizados nas ribanceiras do rio, nos Estados do Pará, Maranhão e Goiás – além de ser exibido, nacionalmente, nas emissoras da Rede Brasil (Cultura).

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