1. O ex-secretário da Sedeme, Adnan Demachki, acaba de publicar post em seu Facebook, contando detalhes sobre a pressa do governo federal renovar a concessão da Ferrovia Carajás.

Um escândalo!

 

A VALE vai pagar uma moedinha por cada tonelada de carga para renovar a concessão das Ferrovias de Carajás e Vitória/Minas.

A convite do Governador Jatene – já que convivi durante 3 anos com esse assunto – estivemos em Vitória-ES., em reunião com o Governador Paulo Hartung, onde ambos assinaram Carta ao Presidente Temer, demonstrando a indignação dos dois Estados pela condução da renovação das concessões das duas ferrovias operadas pela Vale, pleiteando assim, a suspensão dos processos e a abertura de diálogo com os Estados

Vários são os fatores que motivaram o pedido de suspensão dos processos:-

1- A Lei 13.448/2017, exige que previamente haja consultas públicas à sociedade e a aprovação prévia pelo Tribunal de Contas da União. Não ocorreu nem uma coisa e nem outra.

2- O valor de 4 bi está subestimado e não há publicidade dos critérios que estabeleceram esse número como o preço pra Vale pagar pela renovação das duas concessões de ferrovias (Carajás e Vitoria-Minas)

Eu, particularmente ouvi do mercado ferroviário, durante os últimos meses, que o valor estaria entre 9 e 12 bilhões de reais.

Pois bem, a imprensa noticiou somente 4 bilhões e não há a menor informação de como o Governo Federal chegou a esse número .

Fazendo uma conta de padeiro, a ferrovia de Carajás tem 896 kms.
O custo estimado para construção de um km é de 10 milhões de reais.

Logo, o custo de construção somente da ferrovia de Carajás está em torno de 9 bilhões.

Ah, mas a Vale investiu, duplicando a ferrovia. É verdade, mas também é verdade que ela vai auferir mais receita com a duplicação pelos próximos 30 anos.

Quando não há transparência, inevitavelmente surgem dúvidas
Vamos fazer outra conta:

O Governo Federal diz que pra renovar as 2 concessões, a Vale terá que pagar 4 bilhões de reais para explorá-las por mais 30 anos.

Vamos dividir então os 4 bilhões por 360 meses (30 anos).

A Vale pagará então 11 milhões e 111 mil reais por mês.

Bom, em 2017 a Vale transportou nas 2 ferrovias, 366.5 milhões de toneladas de minério de ferro.

São 30 milhões e 541 mil toneladas por mês (fora outros minérios e cargas).
Quando você divide 11 milhões, 111 mil reais por 30 milhões e 541 mil toneladas/mês, temos o seguinte número:

A Vale irá pagar 36 centavos por cada tonelada de minério de ferro que transportar.

Hoje o preço do minério de ferro está em 260 reais a tonelada.

Ou seja, a Vale irá pagar somente uma moedinha por cada tonelada de minério que transportar durante os próximos 30 anos.

3- Também é absolutamente estranho a escolha da FICO.

É um projeto importante? É sim.

A FICO é um pequeno trecho de uma ferrovia que poderá interligar o Atlântico ao Pacífico (Perú) no futuro, se houver continuidade.

Mas hoje a FICO começaria em Água Boa- MT e findaria em Campinorte-GO.

O que isso significa?

Em relação ao início em Água Boa-MT, essa região produz soja que inicialmente parte iria ser escoada pela futura Ferrogrão (Sinop a Itaituba).

Essa carga agora irá pra Campinorte onde passa a atual Ferrovia Norte Sul.
Primeira pergunta:

Essa operação não inviabilizará a Ferrogrão??

Parece que a FICO conspira contra a Ferrogrão e todo o Arco Norte e os investimentos já montados em Itaituba e Rurópolis.

Outra constatação em relação ao final da FICO, em Campinorte-GO, onde passa a Ferrovia Norte Sul.

É estranho constatar que atualmente a VLI S/A é a operadora de 720 kms da Ferrovia Norte Sul.

E pra soja sair da FICO em Campinorte e entrar na Ferrovia Norte Sul vai ter que pagar por tonelada pelo tarifário da ANTT (Resolucao 5.289/2017) o frete de R$ 79,06 por tonelada.

Pagar em favor de quem?

Em favor da operadora VLI.

E quem é a maior acionista da VLI?

A própria Vale.

Pois é, estranho a Vale pagar pela renovação das concessões de 2 ferrovias com a construção de uma nova ferrovia que deverá levar carga para uma outra ferrovia que hoje ela é a operadora.

E mais, se essa carga sair da Ferrovia Norte Sul e entrar pela Ferrovia de Carajás, pra ser exportada pelo Porto de São Luiz, a Vale poderá cobrar mais R$ 50,86 por tonelada, pelo uso da Ferrovia de Carajás.

É, os recursos pela renovação de concessões deveriam gerar desenvolvimento regional.

Não quero crer que virou um “negócio empresarial”.

Portanto, meu dever como cidadão, que teve oportunidade de conhecer esse assunto enquanto Secretário de Estado, é trazer pra sociedade paraense essas informações, para que se exija do Governo Federal e da Vale explicações sobre esses critérios que foram utilizados para o cálculo do preço pela renovação da outorga da Ferrovia de Carajás, como também pela escolha para construção de uma ferrovia (MT-GO) que não está no Estados (PA-ES) onde a Vale causa os danos ambientais/sociais para extrair suas riquezas.

Não somos contra a renovação das concessões das duas ferrovias. Somos contra a forma injusta que o governo federal conduziu o processo;

Somos contra o valor somente de 4 bilhões de reais. Uma moedinha, uma pequena gorjeta, por cada tonelada de minério transportado;

Somos contra a escolha de uma ferrovia- a FICO – em outros Estados que não recebem os enormes impactos sócio/econômicos e ambientais que a exploração dos minérios pela Vale ocasiona.

Esses recursos devem obrigatoriamente ser destinados ao Pará e pro ES, para promoverem o desenvolvimento regional.